15 agosto, 2011

O ciclo da guerra entre as pessoas

Pois então, as coisas estão ficando cada vez mais difíceis.
As minorias ganham voz, finalmente, via internet. Twitter, facebook, blogs e muitos outros canais permitem que os ignorados de ontem façam hoje o barulho que precisam pra reivindicar seus direitos.
A questão é que um país de pessoas que nunca ouviram seus semelhantes não vai agora, como num passe de mágica, saber dialogar com aqueles que estão do outro lado de qualquer questão.
Um exemplo é esta matéria, da Folha, sobre ciclistas x motoristas no campus da USP. Ciclistas reclamam de tachinhas no asfalto, com o intuito de fazê-los desistir de treinar pela universidade. Motoristas reclamam dos pelotões de ciclistas que ocupam faixas inteiras da pista, contra a lei de trânsito, os obrigando a desviar e atrapalhando a fluidez do tráfego.
Notemos, que na matéria, só ficam as acusações. Ciclistas acusam motoristas de espalhar as tachinhas e os funcionários da USP dizem ser essa uma retaliação dos alunos. Ciclistas, por sua vez (não está no texto), reclamam que os carros não os respeitam.
A coisa fica mais feia nos comentários, acusação e protesto ofendendo o "outro lado da corda" de toda forma.

Hoje, por ser só motorista, vejo um lado: existem ciclistas que, com a desculpa de que não estão poluindo, andam fora do espaço que deveriam ocupar. Na Av. das Nações Unidas, em SP, já presenciei ciclistas na faixa da esquerda ou pelotões fechando a faixa da direita por completo, rivalizando com ônibus. Ou seja, tragédia anunciada. Até onde sei, a lei diz que o ciclista deve andar, em fila, à direita da pista. Sei também que a ultrapassagem de um ciclista deve respeitar 1m de distância do mesmo, evitando acidentes.

Mas também vejo que a linda ciclovia às margens do não tão lindo rio Pinheiros, é algo surreal. É bem estruturada, mas só funciona em determinados horários e só tem entrada/saída nos seus extremos. Eu poderia trabalhar de bike se pudesse sair da ciclovia na altura do cliente, mas não tenho como. E mais: como fazer se a ciclovia fecha às 18h?

Vendo tudo isso, eu chego ao ponto: o brasileiro não é educado o suficiente pra conviver com diferentes nuances de pessoas. Os motoristas não respeitam os ciclistas e vice e versa. A pura expressão da limitação de visão do ser humano, que não consegue enxergar muito além de seu próprio umbigo.

O assunto é umbigo? Falemos da lei da faixa de pedestres: foi preciso aumentar a fiscalização das faixas de travessia para tentar coibir atropelamentos e abusos por parte dos motoristas brasileiros contra os pedestres. Mas os "andantes" são santos?
Analisemos o trânsito de São Paulo num horário de trânsito pesado: quantas pessoas não atravessam por entre os carros, muitas vezes, 10, 15 metros da faixa de pedestres? Mesmo sabendo da existência de um farol, pertinho dali, e que elas terão um tempo e tranquilidade para atravessar, elas optam por correr por entre os carros. E assim ocorrem muitos atropelamentos por carros que tinham sua visão encoberta por um ônibus, por exemplo, ou por motos circulando em alta velocidade por entre os carros. Isso sem contar que muitos pedestres têm preguiça de subir a rampa da passarela para utilizá-la.

É o caso, por exemplo, da praça Samuel Sabatini, em São Bernardo do Campo. Alunos da ETEC Lauro Gomes e do Senai (não lembro o nome) saem em massa das aulas, e optam por cruzar as 4 pistas que os separam do shopping local por entre os carros em alta velocidade. E sim, por baixo de uma passarela que já está ali tem mais de 20 anos.

Essa fiscalização das faixas de pedestre não vai surtir o exato efeito que o governo quer, que a meu ver, é o mesmo que se tem na Suécia: ao pisar na faixa, o pedestre faz com que o motorista pare, sem a existência de farol ou qualquer indicativo. Ao contrário, vai acirrar ainda mais a guerra entre pedestres, que usarão a lei para provocar motoristas apressados, e motorizados, que passarão a odiar ainda mais o pedestre que cruza fora da faixa ou demora para cruzar a pista por completo.

Pra mim, o erro está num país que opta por punir em vez de educar. O ciclo da guerra continua, cada dia mais mortal e enervante.

2 comentários:

Mafalda Maya disse...

"punir em vez de educar" é o ponto certo!

Carlos disse...

Pensei exatamente nas passarelas em frente ao Shop. Metropole aqui em SBC. TODO DIA vejo os animais atravessando embaixo da mesma!