24 setembro, 2012

O essencial é invisível aos olhos

O essencial é invisível aos olhos, porque é da essência, é quase etéreo.
É impaupável, intocável, talvez até impalatável. Mas está lá, à mercê do próximo vilão ou mocinho a nos cercar.
Não pode ser objeto de desejo posto que não é alcançável pelas mãos, e se não é tangível aos dedos, não pode ser rotulado de objeto.
É da essência humana, nasce com a gente tal qual nossos olhos... Mas os torna inúteis, uma vez que o essencial não reflete a luz ou sequer a absorve.
Luz, de que tanto necessitamos, se faz inútil à essência humana. Afinal, o essencial não é visto pelos olhos, mas sentido pelo coração, este, tocado por dedos inexistentes mas que podem ser fortes e delicados, rudes e suaves ao mesmo tempo, enquanto interagem com nossa doce e errante existência.
O essencial, por mais que não se veja, acaba muitas vezes escondido por grandes muros ou tapumes. Ou até por pequenos lenços de papel ou guardanapos de mesa de bar. É curioso como algo que não se vê possa ser obliterado de nossa visão tão facilmente... Mas é que a nossa visão do essencial, vista com os olhos do coração, é facilmente bloqueada quando o preconceito, o mau humor ou até mesmo a preguiça se tornam como muros de concreto armado, altos, quase intransponíveis, e nos impedem de ver o que está lá: a essência do outro.
Porque o outro, o vizinho, o passante, o motorista do carro ao lado, trafegando na mesma rodovia, saiu de sua casa com a roupa do dia para mais uma jornada. Saiu vestido com sua pele, com sua cor, credos e costumes, pra enfrentar mais um punhado de horas num dia e tentar voltar são e salvo à sua própria casa.
Mas fazemos dessa jornada um caminho solitário e infeliz, só porque assim escolhemos. Fazemos da cor da pele, de um gosto, ou até de um time de futebol uma venda, ou até uma muleta, que transforma um pequeno degrau a transpor, rumo à essência do outro, num muro alto e espesso que nos permite apenas ouvir, muitas vezes, um bom dia seco e impessoal vindo do outro lado.
É só mais um passo, é só abrir mão da muleta, da venda, ou até da comodidade para lembrar: o essencial é invisível aos olhos do corpo, mas não, aos do coração.


Um comentário:

Sara Lupeti disse...

Achei este blog sem querer, e gostei muito do texto.Ele é simples mas entre toda sua simplicidade se tornou mais belo do que aqueles amontuado de textos emperiquetados.
Abraço.

http://www.saralupeti.blogspot.com