Um dos males do ser humano não é querer justiça. É achar que algum tipo de vingança o faria sentir que a justiça foi feita.
Ao ser sequestrado, roubado, ter parente morto ou algo assim, o ser humano não deseja que a o mal cesse e o seu autor possa deixar de fazê-lo, mas sim, que o mal se volte contra esta pessoa, com muito mais intensidade e efetividade.
Se desejamos o mal ao próximo, mesmo que este nos tenha feito mal, como podemos pedir o bem para nós e os que nos são queridos? Se desejamos o sofrimento ao próximo, por que o universo conspiraria a nosso favor?
- Por que somos justos, filhos de deus - diria a igreja. Mas se considerarmos todos os ensinamentos dos livros sagrados das maiores religiões, não deveríamos fazer o possível para que todos pudéssemos evoluir e aprender a ação do amor para com o próximo? E a pergunta é: aquele que erra, que faz o mal ao seu próximo, não é filho de deus, então?
Vejo muitos que defendem, por exemplo, a abordagem violenta da polícia contra suspeitos, afinal, se é bandido tem mesmo que ser tratado como bandido.
E como fica em casos de engano? O cidadão está na rua, tem um visual que faz com que ele seja confundido com um procurado. Justifica a abordagem policial violenta, humilhante, mesmo que ele possa comprovar que não cometeu um crime?
No caso reportado no link, um paciente de quimioterapia, fotógrafo, é tratado como ladrão e a situação é descrita como humilhante. A vítima do crime, roubo, o aponta como suspeito. Porém, ela mesma admite mais adiante que não tem certeza. Mas nisso, já se foram duas horas em que o fotógrafo estava de pé, sob ofensas e ameaças. Note o ponto na matéria onde ele afirma que o policial diz "se eu te levar daqui vai ser pior".
Espera: vai ser pior por que? Estamos falando de coação, de ameaça à integridade física?
Acho que a pergunta que fica é: somos culpados ou inocentes até que se prove o contrário? Quem sabe o que diz a lei?
E mais: à força policial, até onde sei, não é outorgado o poder de punição. Muito menos antes de um julgamento.
Há um sentimento de vingança embutido nesse tipo de ação, a corrupção do ser humano pelo poder conferido pela posse de uma arma de fogo e uma pseudo autoridade outorgada pela farda.
Concordo que há sim a necessidade de uma ação com segurança para o policial, que também é um trabalhador e muitas vezes parece ter pintado na farda um alvo para ataques criminosos. Concordo também que muitos daqueles que devem à justiça, ao verem a polícia, tentam fugir de toda forma que puderem, mesmo que isso implique em atacar seu perseguidor. Mas rotular toda a população como bandida e continuar usando o "bater primeiro e perguntar depois", é simplesmente alimentar uma cultura de violência. E essa cultura é a mesma que leva o povo a duvidar e hostilizar o trabalho da polícia.
Notas aí o ciclo vicioso?
2 comentários:
Ah, cara, sou sua fã! Texto exemplar. Desejo que o bem se tornar um ciclo vicioso!
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