01 outubro, 2014

Memória de um idoso

Quando eu tinha lá meus 4, 5 anos de idade, fazia muito o mesmo caminho com a minha mãe. Fosse para ir à escola ou ao centro da cidade, era sempre a mesma rua a descer.
Era inevitável, afinal, nosso destino ficava no fim da "nossa rua". Descíamos sempre pelo mesmo lado da calçada e cumprimentávamos toda a vizinhança que encontrávamos pelo caminho: tinha a Tia Carolina, mãe do Capeta e do Limpinho (que descobri anos depois que era Olimpinho), tinha a Alice, Fernanda, a Cidinha, a Laís (outra descoberta tardia: era Alaís), a Adair... E muitas dessas pessoas, além de outras que não citei, fizeram parte da minha vida diária por anos a fio.
Mas a memória que me procurou hoje é uma memória sem nome. No caminho da escola, ainda numa época em que existam casas de muros baixos e jardins, havia uma casa de mureta azul e chão ladrilhado de vermelho. No jardim, sempre roseiras se destacavam e, nos dias mais quentes e ensolarados, uma senhora levava seu marido para tomar sol e ver o movimento.
Era uma senhora idosa, julgo que tinha seus 70 anos, que vivia com esse senhor também idoso, que julgo ser seu marido. Este senhor havia sofrido um derrame que lhe debilitou muito, o deixando privado de movimentação de um lado do corpo e de sua fala.
Hoje, me lembrei vividamente dele: sentado em uma cadeira, calças cinza, camisa branca e uma blusa fina decote em V azul clara. Seu inseparável chapéu cinza escuro protegia sua pele branca já maltratada pelo tempo, enquanto ele se mantinha apoiado numa bengala.
Ao passar pelo portão, creio que ensinado por minha mãe, eu acenava e dizia: "oooba!".
O cumprimento simples era o que parecia fazer o dia do velho. Ele respondia seguidamente enquanto nós andávamos com alguma pressa calçada abaixo, sua voz ainda forte ecoava em meus ouvidos por um bom tempo depois daquilo. O pouco que se podia entender do que ele dizia era "ai meu Deus".
E essa cena se repetia quase todos os dias da semana, igualzinha: o mesmo cumprimento, a mesma resposta. Parecia que era um pouco de alegria que libertava alguém preso num corpo que já não o permitia mais fazer nada que o dava prazer. E aquilo me alegrou por muito tempo. Me lembro de sair saltitante, quando bem menino, sentindo a mesma alegria que aquele homem.
Mas o tempo passou e minha rotina mudou também. A casa daquele homem deixou de ser rota obrigatória quando o portão de entrada de minha nova escola mudou meu caminho.
Passava por lá só aos fins de semana. A adolescência chegou e trouxe sua idiotice e me fez muitas vezes ter vergonha daquilo. Não sei por que, mas era algo assim. Minha mãe, meu irmão e eu mudamos para o outro lado da rua e, como rompimento com a vida pesada que levávamos na antiga casa, passei a usar a nova calçada de minha vida para ir ao centro.
O senhor me via, ao longe, inalcançável pela distância e devia se perguntar por que eu já não o cumprimentava mais. Era notável a tristeza em sua voz em alguns momentos, já sem o mesmo vigor.
Caí em mim alguns meses depois e voltei a cumprimentar aquele amigo, mesmo que de longe. A vida já exigia rotinas mais pesadas, e nossos encontros foram senso casa vez mais escassos e raros.
Não sem surpresa, um dia passei por sua casa e ela deixara de existir: alguém comprou o terreno e demoliu q construção.
Foram-se as rosas, a cadeira que por tanto tempo amparou aquele senhor e, antes de tudo, foi-se o casal. A senhora de sorriso tímido que sentia a felicidade de seu companheiro a cada aceno e ele, que apreciava a rápida companhia de um menino, que foi um adolescente bobo, mas volta hoje para reconhecer o erro com a certeza de ter se tornado um homem que seria respeitado por aquele idoso.
Sei que o tempo não deve ter permitido que eles estejam vivos até hoje, então, considero este texto uma prece por duas pessoas que, sem saber, me fizeram aprender muito.
Sua memória, um pedacinho dela, vive em mim.

25 julho, 2014

Você não morre mais! Falei de você hoje!

Acabei de ouvir a frase "Você não morre mais! Falei de você hoje!" de uma pessoa que falava ao telefone perto de mim.

Parei pra pensar, num daqueles devaneios simplistas: imagina se só falar de uma pessoa fosse suficiente para ela "não morrer mais"?

Seria sensacional!

De um ponto de vista, falaríamos todos os dias das pessoas que amamos e admiramos. Teríamos cada vez mais pessoas falando de seus pais, irmãos, esposas, maridos, filhos e filhas... Falaríamos muito mais de poetas, músicos, artistas, falaríamos sem parar de tanta gente boa e querida!

Suassuna, por exemplo, ainda estaria entre nós. Aquela avó que fazia aquele bolo delicioso com café quentinho nas tardes chuvosas, o guitarrista que pedia uma chance para a paz, enfim, tanta gente querida - e de quem sentimos muita falta no mundo de hoje - ainda estaria por aí, alegrando e complementando nossas vidas.

Por outro lado, um lado mais obscuro, condenaríamos essas grandes pessoas a uma vida eterna, reanimada constantemente pela idolatria de desconhecidos, no caso dos grandes artistas em relação a seus fãs. E dá pra ser pior: naqueles nossos desejos mais sinistros, acabaríamos falando de assassinos e ditadores mundialmente conhecidos, que ainda estariam circulando pelo plano terrestre.

Imagina só: em vez de shows com Paul McCartney, teríamos os Beatles em São Paulo. Sem Lennon, claro, que largou a banda. Bom, possivelmente, sem McCartney que, creio, teria largado os dois outros membros dos fab four para seguir a sua promissora carreira na ocasião. É, acho que seria um fiasco o show de Ringo e George com bandas de apoio, enquanto Macca faria seus lindos shows lotados e caríssimos. E além disso, John estaria em algum lugar se apresentando com Yoko, talvez até com Sean no palco. Difícil de imaginar, né?

Já imaginou a Bahia ainda sob o poder de ACM? Ou ainda, Júlio César, o imperador romano, ainda colocando fogo em cidades pela Europa afora? Pois é, melhor nem cogitar.

Acabaríamos lendo jornais com matérias com títulos do tipo "aquele que não falamos o nome foi encontrado dirigindo um carro com 7kg de drogas na fronteira do Paraguai" só pra não arriscar manter o safado vivo.

Isso contando com o senso comum de que sabemos bem distinguir os bons dos maus, os que merecem viver dos que não merecem tal privilégio.

A verdade é que a beleza da vida está em sua finitude e na saudade que esta finitude pode gerar, além da mensagem implícita desta finitude:

Aproveite cada momento ao lado de quem você ama, afinal, a partida definitiva é certa.

21 julho, 2014

Zoo Luján: impressões sobre a atração mais polêmica da Argentina

Como prometido, vamos falar de Zoo Luján.

O Zoo Lujáné um zoológico bem diferente do que você está acostumado: nele, você entra na jaula de tigres, leões e outros animais.

Vamos começar falando de como chegar. No site você encontra vários detalhes, mas não encontra o principal: van.

O jeito mais fácil e com melhor custo benefício é ir de van. Em frente ao Obelisco, bem no centro da cidade, tem um terminal subterrâneo de vans e ônibus. Pergunte a qualquer policial como chegar que você se dá bem. Chegando lá, pergunte qual van vai para o Zoo Luján (não esqueça do buenos dias e do por favor). Me custou 120 pesos ida e volta.

O truque é que você precisa reservar um lugar, e isso ninguém te fala de primeira. Assim, se não conseguir lugar na primeira van que parar, peça ao motorista que reserve lugar para você na próxima. Elas passam em intervalos de 15 a 30 minutos. Recomendo chegar no terminal bem cedo, umas 7:30 ou 8:00.

Lugar reservado, quando a próxima van chegar, seu nome estará numa lista. Peça ao motorista que avise quando chegar ao zoológico. Pronto, é subir, relaxar e curtir a viagem de aproximadamente 1:10. Não recomendo assistir o caminho pelo pára brisa: você vai notar que o motorista não é exatamente um primor de habilidade! Aprecie a paisagem!

Chegando lá, há uma menina que reserva a van para a volta. É imprescindível que você reserve a van agora.
Essa menina diz que em 3 horas você cumpre o "recorrido" do parque. PORRANENHUMA! Reserve umas 5 ou 6. Reservei 4 e no fim não consegui ir a todas as jaulas que queríamos ir. Guarde os tickets que ela vai te entregar! Ela não os pega de volta, mas é sua única garantia de reserva.

Bom, caminho feito, detalhes dados, vamos entrar no parque! A entrada custa $150 pesos por pessoa. O valor parece valer bem a pena.

Pague, pegue seu mapa e siga as instruções da molecada que toma conta do local. Logo na entrada há uma barraca que vende a comida que você pode dar para os animais que ficam soltos. Recomendo MUITO forte que compre. Rende ÓTIMAS fotos, ainda mais com crianças.

Sim, você leu certo: animais soltos! Lhamas, patos, gansos, camelos, todos soltos. As lhamas são bem fominhas, tome cuidado em deixar a comida exposta! Elas até te seguem por algum tempo. Tome cuidado com elas também na questão da cusparada: se notar que estão muito quietas com os dentes da frente à mostra, saia de perto ou arque com as consequências!

Bom, você passou ileso pelas partes burocráticas e é hora de encontrar a fonte de toda a polêmica: os grandes felinos em suas jaulas!

Escolha a sua jaula preferida e entre na fila: em média,  45 min a 1 h de fila para cada jaula. Sinceramente, é uma sensação sem precedentes estar cara a cara com um tigre branco, como foi comigo. É surreal um animal daquele porte deitado na sua frente, como se dormisse... Isso, como se dormisse. E a polêmica está aí. Muitos dizem que os animais estão dopados. O zoo se defende dizendo que são a 5a geração de animais criados em cativeiro com cães, o que os torna dóceis a este ponto. Recomendo que vá e tire suas próprias conclusões.

Você encontra na internet depoimentos de veterinários que dizem não haver sinais clínicos de uso de qualquer droga nos animais, porém, ninguém do zoo fala do assunto.

O que me chamou atenção foram as condições de um dos leões, que já tem 18 anos. Mal tem músculos! O seu filho andava impacientemente de um lado a outro na jaula enquanto tirávamos fotos com ele. O neto, tão impaciente quanto, andava numa jaula menor, dentro da que estávamos. O urso, que até algum tempo atrás recebia visitas, estava isolado.

Não se esqueça de levar sua câmera e de seguir as instruções dos guias e tratadores. Você não quer que um gatinho desses resolva brincar de bolinha com você de jeito nenhum!

Quanto à comida, pode almoçar lá, sem muito medo. O choripán é bom, há outras opções de sanduíche e também um restaurante. Preços não muito convidativos, mas ainda assim vale a pena.

Pra dar aquela relaxada depois do almoço, vá ver os animais de fazenda. Patos e gansos vivem soltos pelo zoo e tem viveiros específicos para cabras, bodes e ovelhas. Tome cuidado com o seu cachecol, ou ele vira almoço de bode!

Ultimas recomendações: vá preparado para enfrentar filas e seguir ordens à risca quando nas jaulas. Você vai andar bastante também, logo, não se esqueça do conforto nas roupas. Veja a previsão do tempo pro dia que vai na região de Luján.

No dia de ir ao zoo, PERFUME ZERO. Você não quer um bichano super crescido encanado com seu cheiro.

A mais importante delas é: nas jaulas, só entram maiores de 16 anos. Isso mesmo, 16!
Logo, não prometa pra molecadinha mais nova que vai levá-los ao Zoo Luján: eles terão de ficar te esperando do lado de fora das jaulas e seu passeio vai se tornar uma imensa frustração.

Bom, depois de andar bastante, não se atrase para a volta da van. Ela não te espera e, perdendo a sua, pode ficar sujeito a ter de esperar uma possível vaga em outra (que nem sempre ocorre) ou ter de fazer o caminho de volta de táxi. São 65 km aproximadamente, o que vai causar um belo estrago no seu bolso, considerando que também há o pedágio no caminho.

Meu veredito? Não deixe de conhecer!

14 julho, 2014

Gigante na Argentina: Dicas e truques hermanos

Olá!

Dessa vez, vou falar um pouquinho da minha última viagem, Buenos Aires.
Em Julho.

Frio pacas!

Vou procurar não falar do óbvio, pra não ser tão repetitivo. Pros detalhes profundos e variados, recomendo o Aires Buenos, blog que um brasileiro que mora na Argentina.

Bom, vamos às dicas.

Ainda no Brasil:

1) Consulte a previsão do tempo e faça suas malas em cima dela. Chega daquela lenda de que a previsão do tempo está sempre errada: hoje em dia, dá pra confiar bem! Então, na hora de montar a mala, pense BEM no que levar.
Fui pra lá no início do inverno, que é GELADO. Temperaturas entre 5 e 12 graus!
Recomendo levar uma calça de um bom jeans, meias confortáveis e sapatos bons pra andar. Além disso, não se esqueça de uma jaqueta impermeável, cachecol e toca. Me dei muito bem nos 2 dias de chuva que enfrentei com essa indumentária.

2) Dinheiro: aqui, algo controverso. Se você aposta na segurança total, troque seu dinheiro aqui. Câmbio fixo, procedência garantida e tranquilidade são os bônus pra você que prefere a casa de câmbio.
Agora, se você está pronto pra correr um pequeno risco, a minha dica é: saia daqui com aproximadamente 500 pesos por pessoa e leve o restante do dinheiro em reais. Você consegue em alguns lugares no centro de BsAs pagar com real e, como aconteceu comigo, pode conseguir câmbio de 4 pesos por real em vez de 3. Porém, essa troca só consegui numa quantidade razoavelmente pequena de pesos no Caminito. Pondere bem!

3) Tomadas: as tomadas de Buenos Aires tem um padrão bem específico:



Se você vai levar aquela sua câmera fodona pra tirar fotos, obviamente vai precisar carregar a bateria. Certamente ela não vai se encaixar nesse padrão. Vale a pena, se você tiver, já levar seu adaptador. Caso não tenha, encontra fácil nos camelôs por volta de R$ 20,00.

4) Carro: ainda aqui, está valendo a pena deixar o carro no bolsão do aeroporto de Guarulhos. Os preços estão interessantes e valem mais a pena que um táxi, dependendo da região que você mora em SP. Além disso, recentemente instalaram o sistema Sem Parar, ou seja: você não precisa ter dinheiro pra pagar a estadia na hora de sair.

Leu bem esses detalhes? Agora então é hora de arrumar as malas e seguir viagem!

Fui de Aerolíneas Argentinas, o preço estava convidativo. Nenhum trauma no vôo.

Agora, em Buenos Aires:

1) Depois do desembarque, no Aeroparque, você tem duas opções: um remis, que foi minha opção, ou um táxi que fica logo na porta de saída.
Recomendo o remis, mesmo que o táxi saia mais barato: você paga um valor fixo antes da corrida no balcão da empresa (são 3 a escolher, bem no desembarque) e sai com um motorista designado pela companhia, sem surpresas, sem riscos.

2) Hotel: notei que boa parte dos hotéis em BsAs é de prédios antigos. Não se assuste! Ficamos no Ayamitre: ótima localização para quem, como nós, estava disposto a andar para conhecer a cidade. Pertinho do Congresso, Palácio das Águas, 9 de Julho, enfim, sensacional.

3) Kioscos: os kioscos são como as nossas lojas de conveniência dos postos de gasolina, mas sem os postos. Doces, bebidas, salgadinhos, você encontra de tudo lá. Muitos deles são interligados a parlatórios e lan houses, que podem ser úteis!

4) WiFi: tem WiFi em tudo quanto é canto da cidade. No centro, tem até WiFi público aberto e com um bom desempenho. Saia daqui com seu smartphone, coloque no modo avião e explore a cidade com o Google Maps ou o Guia do Trip Advisor. Vale MUITO a pena!

5) Transporte: tem ônibus e metrô na cidade toda. Eu aconselho que, se você quer conhecer a cidade, vá a pé e deixe o táxi como uma espécie de transporte de emergência. Dá pra ver muita coisa diferente no caminho, o que rende boas fotos e nos leva ao próximo tópico.

6) Câmera: BsAs é do naipe de São Paulo ou qualquer outra cidade grande do Brasil. Tem muita coisa bonita pra se fotografar mas também tem insegurança. Assim, saiba esconder sua câmera e esteja sempre de olho contra possíveis roubos. Vimos uma mulher perder a bolsa dentro do café Tortoni, um cartão postal da Argentina: um homem entrou, bem vestido, barba feita, e simplesmente levou a bolsa que estava pendurada numa cadeira, sem chance de reação. Fique ligado!

7) Segurança: o óbvio. Nunca deixe todo seu dinheiro e documentos num lugar só, esteja sempre atento a tudo e nada vai te acontecer.

8) Trânsito: não recomendo de maneira NENHUMA alugar carro em Buenos Aires. Além de ser um gasto a mais e da gasolina ser cara, os motoristas portenhos não são exemplos de habilidade. Lá, divisão de faixas e faixa de pedestres são meros enfeites!

9) Compras: a única coisa que vale a pena comprar na Argentina é o couro e seus derivados. Pesquise bem e vai encontrar bons preço. Pechinchas escandalosas não fazem mais parte da rotina da cidade!

10) Comida: comer é bom barato se você pesquisar bem. Pessoalmente, achei a parrilla horrorosa. A carne é muito gordurosa e dura. Já o bife de chorizo é bom, mas muitas casas em São Paulo já fazem melhores.

Pra fechar o texto, a dica mais importante: use a sua educação!
Sempre que for abordar alguém, comece a frase com "Buenos Dias" (ou o correspondente pra hora do dia" e termine com "Por Favor". O Argentino não se incomoda em ajudar, ao contrário, é até bem pró-ativo e tenta ajudar se te vir perdido ou procurando algo. Porém, ele não tolera má educação. Vi muitos brasileiros se comportando como fazem aqui no Brasil, como se fossem superiores aos demais por serem turistas. Vi uma brasileira que destratou um motorista de van ser deixada pra trás em detrimento de outras pessoas que usavam as palavras mágicas: buenos dias, por favor e gracias. Lembre-se: educação é o seu cartão de visitas, junto com o seu sorriso. E nenhum deles gasta ou acaba. Use sem dó!

Bom, as dicas ficam por aqui. Pode comentar que eu respondo na medida do possível.
Nos próximos textos, além de outros temas, vou falar de Zoo Lujan. Não perca!

26 junho, 2014

Da finitude e esquecimento

Estou recentemente refletindo sobre a finitude não só da vida humana, mas dos ciclos e papéis que exercemos durante a nossa vida.

Todos os nossos papéis, todas as personas que encarnamos, são finitas. São partes de algo maior, peças da máquina, engrenagens de sangue, suor, sentimentos e lágrimas. De alegria e de tristeza.

A própria vida é um ciclo finito. Ao menos, nesse corpo físico. A vantagem da vida, que é também uma desvantagem, é que nunca sabemos quando o fim chegará. Buscamos sempre adiar esse fim, mesmo que nos sabotemos inconsciente e involuntariamente através de nossos hábitos, apressando o temido desfecho de nossa participação nesse palco de interações humanas.

Só que veja, o alvo da minha reflexão não é a vida como um todo, mas sim, uma de nossas personas, um dos ciclos que vivemos dentro dela, seu fim e suas consequências para nosso ego.

Já parou pra refletir sobre um desses fins? Já olhou pra trás e viu quantas pessoas andavam ao seu lado durante uma determinada etapa da sua vida? Onde essas pessoas estão agora? O que será que estão fazendo? E, para o nosso ego, a pergunta mais importante: será que essas pessoas lembram de nós?

Será que estamos prontos para "nascer" como uma nova persona, viver um ciclo finito - mesmo sem saber quando ele vai acabar - e "morrer" no momento certo, deixando para trás o que precisa ser deixado?

Mais adiante disso: será que estamos prontos para deixar uma obra, mesmo que não seja percebida como nossa, e seguir em frente? Conseguiremos na hora certa, mesmo que não saibamos determinar a derradeira hora, deixar para trás as ferramentas e produtos de um ciclo para que outros o vivam de sua maneira e nós sigamos com nossa jornada?

E como última pergunta num texto cheio de interrogações: será que estamos prontos para sermos esquecidos, como uma foto na parede onde todos conhecem o lugar, cores, situações, mas não o nome dos fotografados?

Ciclos, personas, vida... a iminência do fim e a vontade de permanecermos numa situação cômoda que é a de exercer o papel que conhecemos nos torna covardes diante do desafio que se delinea no horizonte: o próximo renascimento.

19 maio, 2014

Sobre Escrever

Sabe, eu sempre gostei de escrever. Não que eu tenha produzido muita coisa, mas eu sempre tive algum tipo de fixação com criar e escrever histórias.
Só não entendo esse sentimento de bloqueio que me para muitas vezes. Muitas vezes as coisas simplesmente fluem, é como se algo ou alguém me ditasse tudo aquilo que eu tinha imaginado, mesmo sem perceber. Aí, tudo simplesmente cai no papel, ou melhor, na telinha do computador.
Mas e quando isso não acontece?
Hoje mesmo, cheguei ao trabalho mais cedo. Liguei o computador e me parecia ter algo na cabeça, o problema é que sumiu. Assim, desse jeito, puf!
É claro, para mim, que há uma enorme diferença em dois modos de escrita que uso: o racional e o emocional.
Claro que os termos acima acabam se entrelaçando no produto final do meu trabalho, mas veja se você já passou por algo do tipo:
Os meus textos "emocionais" são aqueles que simplesmente brotam na minha mente. Aqueles que eu brinco se assemelharem a uma psicografia ou a um ditado de um locutor invisível. Estes, normalmente, não seguem nenhuma linha específica. Já criei textos de humor, de ficção científica, roteiros de propaganda e muitos outros formatos assim.
Já os "racionais" são textos como este aqui: depois de perder o ritmo de um texto emocional ou de passar por algo que não me permitiu usar a inspiração inicial, acabo refletindo sobre um tema e o desenvolvo até o ponto em que estamos agora. Costuma ser mais frio, porém, é mais lógico e costuma ser menos extenso.
O que eu acabo entendendo ser importante, e me ajuda muito a evoluir, é criar conteúdo com alguma frequência. Claro, nem todo esse conteúdo está disponível na web ainda, uma boa parte do que crio tem a intenção de virar um livro físico.
E você? Costuma criar conteúdo? Você publica esse conteúdo?

Comente! 

05 março, 2014

100 dias e contando!

Pouco menos de 100 dias, pouco mais de 3 meses. É o que falta para a Copa do Mundo de Futebol, a ser realizada no nosso Brasil varonil, como todos estão carecas (como eu) de saber.

Jornais pipocam matérias mil sobre o evento. Não sabem se são contra ou a favor: noticiam andamento de obras, expectativas das seleções visitantes, gastos, legados, orçamentos estourados... O consenso único que é esse é o principal assunto.

Um dos temas que o jornalismo parece se deliciar são os protestos e a famigerada frase "Não vai ter Copa", estampada em cartazes e paredes pelo Brasil. Mais apelativo que isso, só o ataque aos partidários do evento, como Ronaldo e Pelé, até ontem endeusados pela população, hoje escolhidos como "porta-vozes do evento maldito".

A questão, pra mim, é: você que está aí metendo o pau na Copa, dizendo que é contra a realização do evento, faz a sua parte pra que o país mude? Ou você é daquele que  fala contra os estádios mais todo fim de semana vai lá "torcer", se envolve em discussão e até briga por causa do seu "time do coração"?

Veja bem: você alimenta essa indústria. Você gasta uma grana comprando camisa oficial, pagando ingresso, mensalidade de torcida organizada, a coisa toda, só pra ajudar o seu time? Já leu no jornal que, enquanto você mal chegou nos 10 mil mensais (eu sou otimista), o jogador menos badalado do seu time ganha 40 e ainda reclama? E eu estou falando do jogadorzinho recém promovido das categorias de base. Qualquer perna de pau com um pouquinho mais de experiência ganha, pelo menos, 100 paus por mês. Quase seu salário do ano.

O problema está todo na base disso tudo, na fundamentação. A mentira que te fizeram engolir durante anos e anos de que o Brasil é o país do futebol. 

Pior que essa, só sua complementar: o Brasil é o país do Carnaval. Essa ajuda a justificar mil cretinices e safadezas do brasileiro médio. Primeiro, de onde sai tanto dinheiro usado nas escolas de samba? Segundo, se é uma festa do povo, por que os destaques e fantasias são vendidos a preços exorbitantes e para os "playboys" que mal participam do trabalho de confecção e realização da festa?

Mas tudo bem, né?

Ahn, seguindo o raciocínio:

Você faz parte daquele povo que vai pro lindo Carnaval de rua da sua cidade, ou pior, da cidade dos outros, e deixa a rua emporcalhada, cheia de latinha e papel no chão, fedendo a urina? Você acha que tem direito de reclamar de qualquer coisa nesse país depois disso?

Eu sei, mais do mesmo. Eu só precisava vomitar isso mais uma vez numa quarta de cinzas.